O cinegrafista Raimundo Carvalho, da TV Aratu, foi agredido na manhã desta quarta-feira (9), em Salvador, em pleno exercício profissional. Ele registrava a prisão de um policial militar, investigado por envolvimento com uma organização criminosa que movimentava dinheiro por meio de rifas ilegais, quando foi surpreendido pela hostilidade do próprio detido.
"Eu fiquei numa posição privilegiada. Fiquei de frente, apesar de ele estar com um paletó cobrindo o rosto, aí ele pronunciou um xingamento e me agrediu com um tapa na câmera", relatou Raimundo. O profissional, com 28 anos de carreira, apesar de não ter se ferido fisicamente, afirmou que sentiu-se intimidado e, sobretudo, desrespeitado enquanto jornalista.
A cena aconteceu durante a segunda fase da emblemática Operação Falsas Promessas, coordenada pelo Draco, com apoio da Corregedoria da PM. A identidade do militar agressor ainda não foi divulgada, mas ele é um dos cinco PMs presos na ação policial.
Diante do episódio, o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia (Sinjorba), Moacy Neves, manifestou-se com veemência:
"É inadmissível que um profissional da imprensa seja agredido por um agente público, ainda que este esteja sob investigação. O Sinjorba repudia veementemente este ato de violência e espera providências imediatas. A violência contra jornalistas é uma afronta direta à democracia e ao direito da população à informação. As autoridades precisam tratar esse tema com a seriedade que ele impõe."
Não é a primeira vez que Raimundo enfrenta esse tipo de situação. "A gente que cobre polícia está vulnerável, eu fico sempre alerta no trabalho", lamentou. O cinegrafista contou ao Sinjorba que já sofreu diversas ameaças e também presenciou outros colegas passarem por situações de violência.
Agressão não é caso isolado
O alerta de Raimundo encontra eco nos números: de acordo com o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2023, publicado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), foram registrados 181 casos de agressão no país no último ano. As agressões físicas representaram 22,1% dessas ocorrências, com destaque para os profissionais da televisão – os mais atacados no ano, segundo o relatório.
Na Bahia, o cenário também é preocupante. O estado aparece como o mais violento do Nordeste por dois anos consecutivos, com 10 casos registrados em 2023. Em todo o Brasil, foram 40 episódios de agressões físicas, número ainda elevado, mesmo após uma ligeira queda em relação a 2022.
A violência, porém, não é um fenômeno isolado do Brasil. Dados da Federação Internacional de Jornalistas indicam que, desde 1993, 1.927 jornalistas foram mortos no mundo – e mais da metade desses casos permanece sem solução. No Brasil, 54 jornalistas perderam a vida por apurar e denunciar pautas sensíveis, reforçando o quão urgente é uma resposta firme e coordenada das instituições.
O Sinjorba, alinhado à FENAJ, segue vigilante e comprometido com a defesa da categoria. "Não podemos normalizar a violência contra jornalistas. É preciso responsabilizar os agressores e garantir condições seguras de trabalho. Um ataque a um jornalista é um ataque ao direito da sociedade de ser informada", concluiu Moacy Neves.
O Sinjorba já se colocou à disposição de Raimundo para o apoio que for necessário, inclusive jurídico, caso ele queira prestar queixa ou fazer representação à Corregedoria da PM. A entidade incluirá a agressão sofrida pelo repórter cinematográfico no relatório da violência contra a imprensa organizado pela FENAJ, além de incluir o caso para acompanhamento da Rede de Combate à Violência Contra Profissionais de Imprensa, coordenada pelo Sinjorba e pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
Procuradas pelo Sinjorba, a TV Aratu e a Secretaria de Segurança Pública não quiseram se pronunciar sobre o caso, até o fechamento dessa matéria.
SinjorBA