Na tarde de ontem, 26 de março de 2025, cinco corpos foram sepultados no Cemitério Municipal São Miguel Arcanjo, em Bom Jesus da Lapa, Bahia. Sem cortejo, sem flores, sem uma mão para o último adeus. Foram enterrados como indigentes — pessoas sem identidade confirmada ou sem familiares presentes para realizar o sepultamento.

Os corpos estavam sob responsabilidade da polícia há mais de um ano. Após longo tempo sem reconhecimento ou qualquer manifestação de parentes, foram levados à sepultura por ordem das autoridades, com a frieza que a burocracia exige, mas com o peso de histórias que provavelmente jamais serão contadas.

Não se sabe ao certo quem eram. Homens? Mulheres? Jovens? Vítimas de quê? O que se sabe é que existiram. Caminharam por ruas que talvez a gente tenha cruzado, sonharam, sofreram — e terminaram seus dias no anonimato.

O sepultamento coletivo de indigentes revela uma face dura da realidade: ainda há pessoas que morrem e simplesmente desaparecem, como se nunca tivessem existido. São os invisíveis da sociedade, que mesmo na morte não recebem o direito a um nome numa lápide.

É impossível não se comover diante dessa cena. Cinco vidas, cinco histórias, enterradas no silêncio de uma tarde comum. E fica o apelo: que como sociedade, a gente não normalize esse tipo de fim. Que o descaso não nos seja confortável.

Porque dignidade não é luxo. É direito — até depois da morte

Fonte: Lapa Capital